sábado, 28 de janeiro de 2012

EM BREVE



Muito em breve, deverei comentar com vocês sobre o processo de criação e elaboração de meus romances  A PELE DO OGRO,  O STRIP DO DIABO. e A SOMBRA DA MEDUSA, minha trilogia.




                                                  

AGUARDEM!

HOSPÍ(CIO)TAL E O ESVAZIAMENTO DAS PALAVRAS.

HOSPÍ(CIO)TAL!

Só o título desta peça teatral, se não fosse eu o autor, teria me chamado a atenção! Claro que, imediatamente, perceberia que o título nos remete a uma aglutinação de duas palavras: HOSPÍCIO + HOSPITAL! No mais, ele nada me diria sobre o enredo e me deixaria muito curioso: qual a relação, entre inúmeras opções, o autor poderia ter feito em uma comédia entre Hospício e Hospital?
Quando escrevi essa peça, em 1978, fora recém-apresentado à obra surrealista de Antonin Artaud, a partir da leitura de L'Ombilic des limbes. Por influência dele, devorei, incesantemente, obras de Arrabal, Ionesco, Samuel Beckett e outros. Fiquei, então, obcecado pelo teatro do absurdo. Eu, que só queria escrever comédias de costumes, imaginem...  Em pouco tempo, – não me lembro se em um mês e meio ou dois! - concebi a trilogia O Descasamento, O Hospí(cio)tal e O Ônibus. Na época, quando encenados, foram bem recebidos por alguns e criticados por outros.
Teatro, naquele momento histórico do Brasil, era arena política. Ainda vigorava o AI5 e a intelectualidade brasileira acreditava que a dramaturgia deveria ser usada para conscientizar a população a lutar por uma sociedade democrática e de pleno direito(?). Eu também pensava assim(?)! Mas estava embevecido pelas ideias de meus mestres acima e acreditava que deveria escrever esses textos - que muitos chamariam hoje de TEATRO BESTEIROL (?)! - por estar indignado com o esvaziamento das palavras e das relações humanas...
Tempos atrás, fiquei,  matutando sobre esse assunto por toda uma tarde: o que, realmente, me levou a escrever esse texto? Fora somente a questão do esvaziamento das palavras? Seria apenas um capricho, uma leviandade do humor boçal e cínico de meus 17 anos?
De repente, voltei, como por mágica, ao ano de 1978! Vi-me transitando confortavelmente entre o meio universitário e o meio teatral, em uma alucinada explosão de criatividade ao final da ditadura Geisel! Pude ouvir, ainda, os rumores, ao pé-de-ouvido, de que o AI 5 seria extinto...!
Senti, outra vez, a euforia de estar vivendo o anseio idealista de liberdade em todos os setores! Principalmente o da expressão - Pai, afaste de mim esse cálice, como diria Chico Buarque na caixa de som do aparelho estereofônico próximo a mim!...  Novamente pude experimentar o cansaço e abatimento, por causa de minhas peças anteriores, de ser chamado à sede da Policia Federal.
Voltei àquela tarde de 1978!
Por causa de Hospí(cio)tal, deveria dar, outra vez, certas explicações sobre meus textos a alguns censores, que se faziam de tolos ou realmente o eram por osmose do departamento em que atuavam...! Vi-me acompanhado de um advogado e de minha mãe, transpirando em desassossego a cada resposta que dava às perguntas dos federais! Revivi o velho horror do arrepio que percorria meu corpo nessas horas, quando eles desvirtuavam o que eu dizia. Outra vez estavam aqueles agentes tentando me fazer crer que, como jovem de boa e distinta família, fora contaminado por pessoas de péssima índole e por isso escrevia textos tão capciosos... Capciosos! É demais...!  
Por mais que negasse que nenhum diretor teatral ou professor universitário me manipulasse, pude ouvi-los insistirem em dizer que eu mentia, que haviam feito uma lavagem cerebral em mim, pois os comunistas faziam isso mesmo com jovens aliciados para o movimento criminoso deles...
E senti outra vez aquela sensação de impotência... Afinal, era inacreditável eu ter que ouvir essas bobagens sem ao menos poder rir! Pois, é... Se risse estaria em má situação e nem o coronel amigo de meu pai seria capaz de livrar-me dela...!
E me vi sendo chamado outra e outra vez por eles! E era sempre a mesma ladainha...!
¬ São esses comunistas que corrompem nossos jovens de bem! Já está provado! Na URSS eles utilizam a prática de controle da mente e muitos agentes preparados por esses subversivos se infiltram entre nós...
Pareceu-me, nessa situação surreal, que entrava num hospício e um bando de lunáticos tentava agora convencer-me de que eu era o que não era! Só faltavam me dizer que eu havia sido abduzido por Ets comunistas, pois, para tudo que eu afirmava ser ou não serHi, influência de Hamlet! –, eles tinham uma teoria... Tal qual o Professor W. de Estocolmo, personagem da peça... Acordei desse meu transe meia-hora depois! Foi então que me veio o estalo:
Dra Jatobá e sua fiel assistente, simbolizavam aqueles censores, enquanto eu, personificava o pobre e indefeso Grivaldo Grisonaldo, quase convencido a acreditar que todos os impropérios que me diziam eram verdadeiros! Como meu personagem...
Desse absurdo artaudiano, não tenho mais dúvidas, nasceu Hospí(cio)tal!
Na realidade, – agora sei! –, escrevi um texto de humor político para criticar a época das trevas em que vivíamos no campo cultural e que, espertamente, passou ileso aos olhos da censura, quando da montagem do espetáculo. Por sinal, um texto que hoje me enche de orgulho por tê-lo escrito, visto que, atualmente, essa peça aproxima a minha linguagem, de 33 anos atrás, com a da garotada – que se diverte muito com ele! – e que, nas entrelinhas, – acredito! –, por si só, será eterno!

A ESCOLA : RESENHA CRÍTICA

Durante todo o seu percurso, até hoje, na condição de romance, A ESCOLA:ONDE ESTÁ UM, ESTÃO TODOS, recebeu inúmeras resenhas. Todas com o seu valor e peculiaridades... Entretanto, nenhuma delas havia me chamado tanto a atenção nesses 30 anos, como a pequena  análise feita por Bruno Marinho de Matos, jovem jornalista esportivo  de O LANCE. Diria mesmo que ele captou o espírito da obra em sua mais profunda essência. Talvez por ter quase a idade que eu tinha quando escrevi a peça teatral -  não sei! - ele teve a sensibilidade necessária para perceber o espírito crítico e questionador que me levou a  narrar a saga de BOLÍVAR BUENO.
Sem me alongar mais, faço questão de transcrever abaixo as palavras desse jovem que também é escritor. E dos bons...:

" Um pouco depois do que eu pretendia, terminei o A Escola. O que dizer a respeito do livro? Antes de mais nada, é uma verdadeira aula de história em forma de romance. Para mim, que sempre teve a disciplina como a favorita nos tempos de colégio, foi um prazer muito grande me aprofundar em um período que sempre foi um dos meus prediletos, ao lado do Estado Novo.

Realmente me surpreendi positivamente com o fim do romance, a tragédia de Bolivar Bueno, mesmo com certo sabor de redenção para o personagem. Gostei muito do desenrolar final. No início da história, ele é tão cheio de virtudes, perspicaz no trato com os alunos, com as mulheres, com seus inimigos, que imaginei que ele conseguiria superar o fracasso ao qual sua luta estava fadada. Seria um heroi romântico, perfeito e, fatalmente, enfadonho. Por mais que eu soubesse o fim da história no seu viés de realidade, imaginei que ele conseguiria encontrar a vitória de alguma maneira.

No fim, para mim, a história de Bolivar Bueno foi o retrato, numa esfera pessoal, do movimento da esquerda brasileira no período em que o livro se passa. Sonhador, idealista, que superestimava suas capacidades e subdimensionava o papel das massas em um movimento revolucionário num país com as dimensões do Brasil. Achar que seria capaz de mudar o mundo no comando de uma dúzia de crianças é o mesmo que pensar numa revolução comunista baseada apenas na participação da intelectualidade, de comunistas da classe média e poucos sindicalistas.

A derrocada de Bolivar Bueno é a derrocada da esquerda. A causa era justa, como o professor mesmo dizia. A coragem de lutar por ela já foi algo que destacou o mestre-escola e o movimento do comportamento da maioria. Mas entre o querer e o poder, há sempre uma grande diferença."

Bruno Marinho de Matos - 26/01/2012